quinta-feira, 4 de julho de 2013

O "Grupinho"

Guardados, muito bem guardados, estão vários personagens reais que passaram pelo "Grupinho" e pela minha vida!
Como esquecer aquela linda e ciumenta garotinha de sardas delicadas na face, com seus cabelos lisos e dourados? A campeã absoluta das "cartinhas" que recebi das mãozinhas de tantos queridos alunos que desfilaram pelas minhas salas de aula:  Liskelen... E fazendo companhia a ela, sua prima Patrícia, com seus olhos de esmeralda...
O poeta do "Grupinho" que de todos os alunos que tive foi o que mais me surpreendeu com seu talento e promessa de que se tornaria um homem de letras, com seu turbilhão interior que vez ou outra transbordava em belíssimos textos poéticos, com sua sensibilidade e seu séquito de seguidores, entre eles o Marcelo com sua indolência para os livros e as leituras com suas difíceis metáforas.
As meninas que gostavam de moda: Patrícia e Viviane com desenhos de roupas durante as aulas de Português.
A Patrícia Araújo, tão linda, com seus ares de modelo em tantos  desfiles!
À hora da merenda, servida dentro da sala de aula, o vidro com pimenta que era passado de mão em mão, disputado  por todos.
Quando vieram os alunos da "roça", assim chamados pelos da cidade  enciumados pela nossa atenção a eles por serem extremamente disciplinados e respeitosos, houve momentos de tensão até que vencidos pela convivência prazerosa foram integrados e se tornaram grandes amigos e cúmplices. Muitos da cidade iam com eles na sexta-feira para apreciarem a vida na "roça"!
Cláudia, Silma e Rosimeire, os cadernos mais organizados e completos, disputavam as melhores notas; Henrique com seu senso de humor, Neiva, querida, tão madura e sensata sempre pronta a apaziguar os ânimos; Gilcimar, tão calmo!E tantos mais...
Andréia... Daniela... Pollyana... alunas modelo de inteligência e dedicação. Quanto carinho!
Áyra Pollyana, um anjo de doçura: talento, criatividade...
Jaqueline e Cristiane que ofereciam tudo de si pela escola e professores!
Elcilene, tímida e linda!
Juliana e Thiago... Determinação e alegria em estudar...
Aline Moura, a "Narizinho"... linda!
Udna e sua dor de ouvido, com seus cabelos encaracolados e sua beleza que deixava os meninos tontos.
Roselene e Rosimeire... filhas da D. Divina...
E os gêmeos idênticos que trocavam de sala e a gente nem percebia...
Eram tantos e tão queridos!

 



terça-feira, 11 de junho de 2013

Reminiscências...

Mulheres, em geral, são mais conservadoras e cuidadas que muitos homens. Em minha visão, um tanto quanto infantil, via os antigos prédios colegiais de minha infância e juventude como dotados de gênero. Explico: O Colégio Santa Teresa: feminino e o São José masculino.
O Santa Teresa, bem mais íntimo: andei por lá sete anos como estudante e mais alguns como mãe de estudante.
O São José, frequentei poucas vezes. Uma delas foi para levar um material para que o Padre Mário fizesse uma matriz. Naqueles tempos isso era alta tecnologia... meados de 1980.
Padre Mário era um homem metido sempre numa batina preta, calado, taciturno, inteligentíssimo. Fora professor de meus irmãos e sobre ele eu ouvira muitas histórias, onde percebia um misto de admiração, respeito e uma certa aura de mistério.
Recebeu-me tão gentilmente, explicou-me como era feita a matriz, mostrou-me aquela máquina esquisita numa sala de paredes altas e grandes janelas cerradas. Sorria e eu o vi de uma maneira diferente. Gostei dele de pronto.
O Santa Teresa continua lá. Modernizou-se, embora conserve aquele tom de aristocracia e de segregação social.
O São José há muito que deixou de ter alma própria. Mas o prédio ainda permanecia mais ou menos inteiro até que se divulga a notícia de que havia sido vendido. Começou então um processo de mudanças. Vieram abaixo os eucaliptos que outrora davam um ar de outras terras, com seu olor característico nas manhãs de bruma de invernos passados. Recentemente um grande mercado ocupou parte de seus arredores, mas havia ainda uma resistência em uma parte de sua construção. A entrada com suas escadarias e dois blocos grandes e simétricos com seus vitrais pintados e sem graça, como se quisessem mostrar que estavam contrariados com o que se passava e preferiam fechar os olhos. Até que numa manhã de domingo um grande trator tratou de por abaixo um de seus blocos, deixando-o capenga e sem jeito. Houve algumas manifestações de agrado por parte de alguns, de desagrado por parte de outros e agora está lá um monte de entulho que,  embargado pela justiça, ainda não pôde ser retirado.
Ah! Fico imaginando quanta história, quantos segredos velados pelas altas paredes de seus frios corredores. Lágrimas de pequenos internos ausentes de seus familiares, de seus amores. Secretos romances reais ou imaginários e muitos sonhos. E por certo, ainda se pode ouvir o farfalhar de batinas e o som de passos fugidios de fantasmas que tristemente não encontram mais uma casa assombrada e querida e só um caos enegrecido e disforme, cercado por uma fita amarela tão frágil, mas ainda assim representando uma inútil resistência ao novo, ao rápido e descaracterizado progresso
que abarca e muda e torna tudo tão ridiculamente igual e sem expressão.
Uma dor estranha, uma saudade e uma certeza de que passamos... Envelhecida eu também passo, às vezes capenga pelas perdas, estranha, mas ainda de pé vendo os destroços presos por uma tênue fita amarela.
Reminiscências...