quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pablo Neruda

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

Um poema não é para ser explicado, mas sentido no mais íntimo de nossa inquietante busca por vida... Neruda consegue me transportar para um lugar sem nome, mas que me faz vibrar em outra frequência... Não são palavras... são setas de fogo que me atingem e não me matam nem ferem, mas incendeiam-me com tanta magia e poesia... 


Traduzir o ser amado no silêncio e gostar de se reconhecer nesse silêncio,  gostar mesmo da própria dor que desse silêncio emerge...

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